A Reflexão Sobre o Uso da Beira-Mar: Habitação, Urbanização e o Impacto da Maresia
Este artigo convida o leitor a refletir sobre a ocupação das áreas à beira-mar, analisando as diferenças entre grandes centros urbanos e regiões litorâneas interioranas. Discute-se a predominância de edifícios altos nas cidades e de casas horizontais em áreas menos urbanizadas, além de explorar os impactos da maresia e os desafios da manutenção e sustentabilidade nessas localidades. A reflexão propõe um equilíbrio entre urbanização e preservação ambiental, destacando a importância de práticas sustentáveis para harmonizar o uso humano com a natureza costeira.
ARQUITETURA LITORÂNEAURBANIZAÇÃO QUALIDADE DE VIDACONEXÃO COM A NATUREZA MARESIATENDÊNCIAS DE DESIGN
Patrícia Liger
12/11/20243 min read


A Reflexão Sobre o Uso da Beira-Mar: Habitação, Urbanização e o Impacto da Maresia
A beira-mar tem sido historicamente um espaço de atração e desejo humano. A proximidade do oceano evoca um senso de liberdade, saúde e bem-estar. No entanto, a forma como ocupamos essas áreas varia significativamente dependendo do contexto: grandes centros urbanos optam pela verticalização, enquanto regiões menos urbanizadas preservam um estilo de habitação mais próximo ao chão, geralmente representado por casas. Essa diferença desperta uma reflexão sobre o impacto ambiental, social e econômico da ocupação da beira-mar.
A Definição da Beira-Mar e Seus Limites
Para entender o impacto e as escolhas arquitetônicas e urbanísticas, é importante definir o que chamamos de "beira-mar". A legislação brasileira, por exemplo, estabelece que a área da Orla corresponde à faixa de terra contígua à linha de costa, abrangendo até 33 metros a partir da preamar média (limite das marés mais altas). Contudo, no cotidiano e na urbanização, a ideia de beira-mar pode ser expandida para englobar bairros e comunidades situados a até 1 ou 2 quilômetros da praia, dependendo do contexto geográfico e das condições de visibilidade e acesso.
Os efeitos da maresia – o processo de corrosão causado pelo sal e pela umidade – podem ser sentidos em construções localizadas a até 5 quilômetros da costa, dependendo da intensidade dos ventos e da topografia local. Assim, ao planejar habitações ou grandes edificações, é crucial considerar essa zona como sujeita à influência direta do ambiente marítimo.
A Verticalização nos Centros Urbanos
Nos grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro, Recife e Salvador, a ocupação da beira-mar é marcada pela presença de edifícios altos. Essa verticalização surge da necessidade de maximizar o uso do solo, que se torna cada vez mais escasso e caro devido à alta densidade populacional e à valorização imobiliária. A construção de prédios atende à demanda por moradia e serviços, mas também resulta em:
Redução da circulação de ar natural, o que pode intensificar a sensação de calor.
Impacto visual, já que grandes estruturas podem bloquear a vista do mar, criando barreiras físicas e psicológicas para a comunidade.
Aumento da impermeabilização do solo, intensificando problemas como alagamentos.
Além disso, a presença predominante de edifícios pode levar à descaracterização da paisagem natural e à diminuição da conexão afetiva com o espaço, transformando a beira-mar em um ambiente mais comercial do que residencial.
Casas à Beira-Mar no Interior e Regiões Menos Urbanizadas
Por outro lado, regiões litorâneas afastadas dos grandes centros urbanos tendem a valorizar habitações horizontais, como casas e chalés. Essa escolha reflete um estilo de vida mais tranquilo, conectado à natureza e às tradições locais. No entanto, essas áreas também enfrentam desafios relacionados à maresia e ao impacto ambiental:
Manutenção das estruturas: Casas próximas à praia requerem materiais mais resistentes à corrosão, como alumínio anodizado, madeira tratada ou concreto especial.
Preservação ambiental: A ocupação de áreas de restinga ou manguezais pode gerar desequilíbrios ecológicos.
Isolamento econômico: Muitas dessas áreas enfrentam dificuldades de acesso a serviços essenciais, o que limita o desenvolvimento sustentável.
Qual a Melhor Solução para a Habitação à Beira-Mar?
A reflexão sobre a ocupação da beira-mar passa por um equilíbrio entre densidade populacional, qualidade de vida e preservação ambiental. Para isso, algumas diretrizes podem ser consideradas:
Zonificação inteligente: Definir áreas para edifícios e residências horizontais com base nos impactos ambientais e sociais.
Uso de tecnologias sustentáveis: Construções à prova de maresia, sistemas de captação de água da chuva e materiais locais podem minimizar os impactos negativos.
Limites de proximidade: Habitações e edifícios podem ser planejados para respeitar zonas de proteção costeira, como a faixa de 33 metros da linha de costa, e para mitigar os impactos da maresia em zonas até 5 quilômetros da praia.
Conclusão
A ocupação da beira-mar é um reflexo de nossas prioridades como sociedade. No contexto urbano, priorizamos densidade e eficiência, enquanto, nas áreas interioranas, buscamos um estilo de vida mais conectado à natureza. No entanto, independentemente da localização, é essencial adotar práticas que respeitem os limites do ambiente e promovam o bem-estar das pessoas e da paisagem costeira. Afinal, a verdadeira beleza da beira-mar está na harmonia entre o humano e o natural.